quarta-feira, 26 de março de 2008

Uma Reação Inesperada

Já é quarta-feira e praticamente metade da semana já se passou. Até que o tempo não está se arrastando tão lentamente quanto estava na semana passada. (Parece que a semana passada levou um mês pra passar.)

Desde quarta-feira da semana passada, 19 de Março, eu não havia ido ao laboratório. Eu até estudei um pouco, ou tentei, mas em casa mesmo. Eu tenho acesso remoto à minha máquina no laboratório. E desde quinta-feira eu não checava as mensagens da conta de e-mail do laboratório. Meu orientador ficou preocupado comigo e me mandou uma mensagem no e-mail do celular na segunda-feira à noite (na verdade 01:15h de terça-feira) perguntando se estava tudo bem. Eu teria que explicar pra ele, de alguma forma, que eu não fiz nenhuma das coisas que eu deveria ter feito na última semana e ao invés de tentar ficar inventando desculpas achei que era melhor dizer logo a verdade. Respondi a ele que tinha tido uma crise de depressão, que estava melhorando mas ainda não estava 100%, que já tinha tido isso (em maior intensidade) a 10 anos atrás, e que eu sabia que isso era uma coisa difícil de entender (a maioria das pessoas encara como uma fraqueza de caráter) mas que eu iria tentar explicar pra ele melhor na nossa reunião de terça-feira (o dia seguinte). A reunião já estava agendada desde a semana passada.

Terça-feira, 25 de Março, ontem, foi o dia da serimônia de graduação (卒業式 -- sotsugyo-shiki). Pela manhã é a formatura dos under-graduate e à tarde é a formatura dos graduate. Tinha um de cada no nosso laboratório se formando este ano. É uma cerimônia bonita, os rapazes vão todos de terno preto e as moças vão quase todas com roupas tradicionais japonesas (kimonos ou hakamas). Eventualmente algum rapaz vai com roupa tradicional também, mas é raro. Nos dois anos passados eu fui ver a cerimônia, mas esse ano eu não estava com ânimo pra ir.

Minha reunião com o sensei foi à 13:00h. E eu estava esperando ter que explicar porque eu estou com esse problema, o que é o problema, etc. Foi completamente o contrário. Ele mal me deixou falar. Me recebeu com um ar de preocupado, pediu desculpas por estar me pressionando demais. Disse que sabe que eu tenho trabalhado muito e que não é uma fase fácil. Que ele tem um ritmo de trabalho muito acelerado e que as vezes ele se esquece que nem todo mundo é assim e coloca pressão demais nos alunos. Disse que eu deveria descansar o restante da semana, que nós vamos mudar radicalmente o meu cronograma de trabalho, que ele acha muito importante que eu vá mesmo ao Brasil logo e passe algum tempo lá. Pediu desculpas, de novo, por ficar sempre falando que menos de 20% dos alunos consegue terminar o Ph.D. em 3 anos. E disse que muitos dos outros mais de 80% que não terminam tem problemas de depressão também e desistem do curso ou se matam. E em Tsukuba esse problema era ainda pior. Tsukuba é a cidade com o maior índice de suicídio do Japão. Então que não era pra eu ficar desesperado, que as coisas ainda podem se resolver e que mesmo que não se resolvam da melhor forma possível, que o Ph.D. não é o objetivo máximo da minha vida, que é uma coisa desejável, mas que se eu tiver que levar 4 ou 5 anos pra conseguir terminar, ao invés dos 3, que isso não é tão terrível assim e que eu tinha que pensar mais na minha vida como um todo ao invés de me prender a esse aspecto apenas. Disse que toda semana eu tenho que tirar de 1 a 2 dias pra esquecer completamente a pesquisa e gastar esses dois dias apenas com coisas agradáveis como fazer compras, passear, sair com meus amigo, etc. (Nota: Eu realmente queria ter dinheiro pra poder passar dois dias fazendo compras toda semana.)

Eu fiquei completamente sem ação! JAMAIS imaginei que ele fosse falar as coisas que ele falou. Eu não sabia o que responder. Acho que ele deve ter ficado com muito medo de que eu fizesse como os japoneses e me matasse.

Ele disse também que ao invés de tentar escrever um paper pra um journal até a semana que vem e depois um outro paper pra uma conferência com deadline no início de Maio (ATVA 2008), que a gente deve tentar fazer o paper pra conferência em Maio, se der, e caso a gente consiga enviar o paper pra conferência, então escrever um "journal version" desse paper. E como uma versão já teria sido aceita em uma conferência, que seria mais fácil ter o paper aceito pelo journal. E eu teria os dois papers que eu preciso pra me graduar de qualquer forma. Mas que se não der pra ser assim, que as coisas vão ser mais demoradas mas que vão dar certo assim mesmo. Ele estava tão amigável na conversa que eu fiquei emocionado de verdade.

Depois da reunião, teve uma comemoração com chá e bolinhos (お茶会 -- o-cha-kai) pra celebrar a formatura dos dois alunos do laboratório. Um deles terminou mestrado e vai trabalhar em uma empresa à partir do mês que vem, então está deixando o grupo. O outro terminou o under-graduate course e vai começar mestrado este ano. Também compareceu um aluno que está vindo de outra faculdade pra fazer mestrado aqui e os dois under-grads novos que vão estar no lab este ano.

Em sentido horário: Tateishi-kun, Tanaka-kun, Tanamachi-kun, Hatayama-kun, Sugiura-kun e Yonezawa-kun. Todo mundo é "kun" porque todo mundo é mais novo e menos graduado que eu. Eu sou "san" e o sensei é "sensei".

Depois do o-cha-kai a gente foi tentar redistribuir as baias (cubículos de estudo?) e os computadores. Como o aluno mais graduado eu ecolhi onde queria sentar e qual computador eu queria primeiro, depois escolheram os dois alunos de mestrado, e assim por diante. Eu escolhi sentar onde eu estou mesmo e já tinha escolhido o computador antes, então ontem eu fiquei fazendo a configuração do computador novo. Já consegui configurar quase tudo, menos a câmera de vídeo e o som. Ou seja, pra usar o Skype no lab eu ainda dependo do laptop. Fiquei no lab até umas 22:00h mas não me senti cansado. Estou me sentindo cansado hoje, e hoje eu não fiz nada além do backup da máquina antiga (que eu tenho que baixar na máquina nova) e de escrever este post.

Saudades da família.
(u_u)

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