sábado, 29 de março de 2008

Último final de semana de Março

Sexta-feria foi um dia que começou com todo o ar daquela renovação de primavera, que a gente só entende mesmo o que é depois que vive em um paiz que tem inverno e primavera de verdade. Amanheceu um dia ensolarado, quase sem nuvens, eu lavei a roupa que estava se acumulando e levei pra lavanderia pra secar. Fui pro gym levantar um pouco de peso e no caminho vi as primeiras sakuras do ano.

Repare bem no centro da foto que dá pra ver as primeiras flores.


Pra completar a manhã a Karin me telefonou eu voltei pra casa "voando" pra poder falar com ela pelo Skype. Conversamos durante mais de 40 minutos.

Depois de conversar com a Karin eu vi que o tempo tinha mudado completamente e do nada, o céu estava completamente tomado de nuvens. Caiu o maior temporal com raios, trovoada e ventania. E ficou chovendo assim até depois do meio da tarde. Eu tinha planejado ir ao laboratório, mas acabei ficando em casa. No final da tarde a chuva já tinha parado e eu fui correr com a Adri. Foi bom correr, eu sempre me sinto melhor quando estou me exercitando e é bom poder conversar com alguém. Fora o telefonema da Karin eu não tinha falado com ninguém o dia inteiro.

Ontem, Sábado, foi o jantar de despedida do Zauder (que na verdade já tinha saído de Tsukuba pra Yokohama, mas agora está indo pro Brasil de vez) e da Miwa, que chegou junto comigo mas só fez mestrado. Foi meio estranho, porque era um misto de alegria e tristeza por eles estarem indo embora. É sempre triste perder (ficar longe, na verdade) um amigo, mesmo que ele esteja indo pra um lugar legal. Era pro Zauder ter voltado pra Yokohama ontem mesmo, mas ele esqueceu a máquina fotográfica no carro e teve que voltar pra buscar. Resolveu ficar na casa do Quispe e eu passei lá pra levar a câmera. Aproveitamos pra conversar mais um pouco e tomar uma cerveja. Amanhã, Segunda-feira, o Zauder embarca pro Brazil. Ele vai fazer falta. Tava longe, em Yokohama, mas a gente sempre se via.

Hoje eu conversei com a Karin de novo. Ela tem uma rotina super-corrida com as crianças, levando pra natação, escola, ginástica, médico, ajudando com a lição de casa, etc., tem o doutorado dela e ainda acha tempo pra conversar comigo. Eu sei que não é fácil. E eu adoro ela por isso também. Eu sei que nesses dias em que eu estava mal, e as vezes ligava duas ou três vezes por dia pra ela, eu a deixei muito estressada, mas ela me disse hoje que está tudo bem e que está se sentindo melhor. Eu sei que não está tudo bem, que ela ainda deve estar cansada do trabalho que eu dei, mas ela diz isso pra eu me sentir melhor. Eu queria poder fazer ela se sentir melhor de alguma forma também, ao invés de só ficar dando trabalho.

Depois de conversar com a Karin eu fui pra um 花見 (hanami), é um pique-nique pra apreciar as flores de cerejeiras, as sakuras. Como as sakuras só florescem no começo da primavera e duram apenas de uma a duas semanas é muito comum ver as pessoas fazendo esses pique-niques. Na verdade, até os laboratórios da faculdade costumam organizar alguns com os membros dos laboratórios. Esse ano o meu orientador já avisou que quer fazer um hanami com o pessoal do meu lab.

Em sentido horário: Geni, Maruko, Wagner, Robson, Myrian, eu, Lina e Juliana.

O problema do hanami de hoje foi que o tempo se comportou quase como o de sexta-feira, o dia amanheceu lindo, mas por volta de meio-dia o tempo fechou, ficou nublado, escuro e a temperatura caiu pra caramba. Parecia inverno de novo. Todo mundo estava tremendo de frio. Terminamos o hanami cedo e cada um pra sua casa.

Amanhã eu devo ter uma reunião com o meu orientador à tarde. Vamos ver se já dá pra voltar ao trabalho de verdade.

(u_u)

quinta-feira, 27 de março de 2008

Natural blues

Eu gosto muito de um artista chamado Moby que compõe, toca e, as vezes, canta techno. Das músicas dele que eu mais gosto estão Lift me up, Where you end e Extreme ways. Eu também acho uma musica dele chamada Beautiful muito bonita, mas eu fiquei com tanta pena do coelhinho do clip que eu evito assistir de novo.

Hoje eu estava vendo de novo um clip chamado Natural blues, que eu achei muito bonito quando vi da primeira vez. Mas desta vez a música, ou mais provavelmente o clip, me fez sentir uma urgência muito grande de falar com as crianças. Me deu uma sensação imensa de tempo perdido. A música mesmo quase não tem letra, mas o ritmo é muito bom.



Natural Blues Lyrics


Artist: Moby
Album: Play

Chorus: Oh lordy, trouble so hard
oh lordy, trouble so hard,
don't nobody know my troubles but God
don't nobody know my troubles but God
(sing 3×)

Went down the hill, other day
soul got happy and stayed all day
(sing 2×)
(Back to chorus sings 2×)

Went in the room, didn't stay long,
looked on the bed and brother was dead
(sing 2×)
(back to chorus 1 sings 5×)


Telefonei pra casa e consegui conversar com eles. Eles estão bem e pareciam muito alegres e eu fiquei feliz com isso. Mas a sensação de tempo perdido continua. É mais ou menos o que eu estou sentindo desde que fiquei mal a uns 10 dias. Uma sensação enorme de perda.

(u_u)

quarta-feira, 26 de março de 2008

Uma Reação Inesperada

Já é quarta-feira e praticamente metade da semana já se passou. Até que o tempo não está se arrastando tão lentamente quanto estava na semana passada. (Parece que a semana passada levou um mês pra passar.)

Desde quarta-feira da semana passada, 19 de Março, eu não havia ido ao laboratório. Eu até estudei um pouco, ou tentei, mas em casa mesmo. Eu tenho acesso remoto à minha máquina no laboratório. E desde quinta-feira eu não checava as mensagens da conta de e-mail do laboratório. Meu orientador ficou preocupado comigo e me mandou uma mensagem no e-mail do celular na segunda-feira à noite (na verdade 01:15h de terça-feira) perguntando se estava tudo bem. Eu teria que explicar pra ele, de alguma forma, que eu não fiz nenhuma das coisas que eu deveria ter feito na última semana e ao invés de tentar ficar inventando desculpas achei que era melhor dizer logo a verdade. Respondi a ele que tinha tido uma crise de depressão, que estava melhorando mas ainda não estava 100%, que já tinha tido isso (em maior intensidade) a 10 anos atrás, e que eu sabia que isso era uma coisa difícil de entender (a maioria das pessoas encara como uma fraqueza de caráter) mas que eu iria tentar explicar pra ele melhor na nossa reunião de terça-feira (o dia seguinte). A reunião já estava agendada desde a semana passada.

Terça-feira, 25 de Março, ontem, foi o dia da serimônia de graduação (卒業式 -- sotsugyo-shiki). Pela manhã é a formatura dos under-graduate e à tarde é a formatura dos graduate. Tinha um de cada no nosso laboratório se formando este ano. É uma cerimônia bonita, os rapazes vão todos de terno preto e as moças vão quase todas com roupas tradicionais japonesas (kimonos ou hakamas). Eventualmente algum rapaz vai com roupa tradicional também, mas é raro. Nos dois anos passados eu fui ver a cerimônia, mas esse ano eu não estava com ânimo pra ir.

Minha reunião com o sensei foi à 13:00h. E eu estava esperando ter que explicar porque eu estou com esse problema, o que é o problema, etc. Foi completamente o contrário. Ele mal me deixou falar. Me recebeu com um ar de preocupado, pediu desculpas por estar me pressionando demais. Disse que sabe que eu tenho trabalhado muito e que não é uma fase fácil. Que ele tem um ritmo de trabalho muito acelerado e que as vezes ele se esquece que nem todo mundo é assim e coloca pressão demais nos alunos. Disse que eu deveria descansar o restante da semana, que nós vamos mudar radicalmente o meu cronograma de trabalho, que ele acha muito importante que eu vá mesmo ao Brasil logo e passe algum tempo lá. Pediu desculpas, de novo, por ficar sempre falando que menos de 20% dos alunos consegue terminar o Ph.D. em 3 anos. E disse que muitos dos outros mais de 80% que não terminam tem problemas de depressão também e desistem do curso ou se matam. E em Tsukuba esse problema era ainda pior. Tsukuba é a cidade com o maior índice de suicídio do Japão. Então que não era pra eu ficar desesperado, que as coisas ainda podem se resolver e que mesmo que não se resolvam da melhor forma possível, que o Ph.D. não é o objetivo máximo da minha vida, que é uma coisa desejável, mas que se eu tiver que levar 4 ou 5 anos pra conseguir terminar, ao invés dos 3, que isso não é tão terrível assim e que eu tinha que pensar mais na minha vida como um todo ao invés de me prender a esse aspecto apenas. Disse que toda semana eu tenho que tirar de 1 a 2 dias pra esquecer completamente a pesquisa e gastar esses dois dias apenas com coisas agradáveis como fazer compras, passear, sair com meus amigo, etc. (Nota: Eu realmente queria ter dinheiro pra poder passar dois dias fazendo compras toda semana.)

Eu fiquei completamente sem ação! JAMAIS imaginei que ele fosse falar as coisas que ele falou. Eu não sabia o que responder. Acho que ele deve ter ficado com muito medo de que eu fizesse como os japoneses e me matasse.

Ele disse também que ao invés de tentar escrever um paper pra um journal até a semana que vem e depois um outro paper pra uma conferência com deadline no início de Maio (ATVA 2008), que a gente deve tentar fazer o paper pra conferência em Maio, se der, e caso a gente consiga enviar o paper pra conferência, então escrever um "journal version" desse paper. E como uma versão já teria sido aceita em uma conferência, que seria mais fácil ter o paper aceito pelo journal. E eu teria os dois papers que eu preciso pra me graduar de qualquer forma. Mas que se não der pra ser assim, que as coisas vão ser mais demoradas mas que vão dar certo assim mesmo. Ele estava tão amigável na conversa que eu fiquei emocionado de verdade.

Depois da reunião, teve uma comemoração com chá e bolinhos (お茶会 -- o-cha-kai) pra celebrar a formatura dos dois alunos do laboratório. Um deles terminou mestrado e vai trabalhar em uma empresa à partir do mês que vem, então está deixando o grupo. O outro terminou o under-graduate course e vai começar mestrado este ano. Também compareceu um aluno que está vindo de outra faculdade pra fazer mestrado aqui e os dois under-grads novos que vão estar no lab este ano.

Em sentido horário: Tateishi-kun, Tanaka-kun, Tanamachi-kun, Hatayama-kun, Sugiura-kun e Yonezawa-kun. Todo mundo é "kun" porque todo mundo é mais novo e menos graduado que eu. Eu sou "san" e o sensei é "sensei".

Depois do o-cha-kai a gente foi tentar redistribuir as baias (cubículos de estudo?) e os computadores. Como o aluno mais graduado eu ecolhi onde queria sentar e qual computador eu queria primeiro, depois escolheram os dois alunos de mestrado, e assim por diante. Eu escolhi sentar onde eu estou mesmo e já tinha escolhido o computador antes, então ontem eu fiquei fazendo a configuração do computador novo. Já consegui configurar quase tudo, menos a câmera de vídeo e o som. Ou seja, pra usar o Skype no lab eu ainda dependo do laptop. Fiquei no lab até umas 22:00h mas não me senti cansado. Estou me sentindo cansado hoje, e hoje eu não fiz nada além do backup da máquina antiga (que eu tenho que baixar na máquina nova) e de escrever este post.

Saudades da família.
(u_u)

domingo, 23 de março de 2008

Domingo de Páscoa

Eu prometi pro Cristiano, meu irmão, que iria tentar mandar um e-mail por dia, nem que fosse curto, e ao invés de simplesmente mandar um e-mail eu achei que seria legal criar um outro blog, com postagens curtinhas e mais freqüêntes. Dificilmente eu vou conseguir fazer postagens diárias, mas vou tentar ficar perto disto. Não sei bem porque eu achei que seria melhor um blog.

Hoje foi domingo de Páscoa, mas no Japão eles não comemoram a Páscoa, então seria um domingo normal, mas foi aniversário de uma brasileira que está fazendo pós-doc aqui, a Geni, e ela convidou pra almoçar. Foram umas 9 pessoas.

Em sentido horário (ou da esquerda pra direita): Juliana, Maruko, Dani, Adri,
Jefferson (eu), Lina, João, Geni (Aniversariante) e Jorge.

Depois do almoço eu, Lina, Adri e Dani fomos doar sangue. Não lembro direito quando surgiu o assunto, mas nós decidimos ir. A Adri não pode doar sangue porque viajou pra fora do Japão a menos de 4 semanas. Lina e Dani, só puderem doar 200cc porque pesam menos de 50Kg. Eu doei 400cc. Como sempre, sempre, sempre, foi difícil pras enfermeiras conseguirem achar a minha veia. Isso sempre me acontece, mas aqui no Japão as enfermeira parecem tão preocupadas em ter que ficar me furando várias vezes que dá até pena. Ficam pedindo desculpas (sumimasen) o tempo todo.

A parte legal de doar sangue é que eles fazem um exame prévio pra ver se você pode doar ou não, medindo número de plaquetas, número de glóbulos brancos, etc. e a enfermeira foi MUITO enfática em dizer que eu estava com o sangue ótimo. (Não foi bom não, foi ótimo.) Eles também fazem uma série de outros exames depois, tipo hepatite, HIV, etc. e enviam o resultado pra casa. A enfermeira também achou que eu estava bombeando sangue muito rápido. Enchi o saquinho de 400cc em menos tempo que as meninas levaram pra encher o de 200cc. Não faço a menor idéia se isso é bom ou ruim, mas em princípio não me surpreendeu, já que eu peso mais que as duas juntas. Depois que você doa tem uma máquina da coca-cola liberada pra beber coca-cola, sprite, café e chocolate quente à vontade. Eu tomei uns 4 chocolates quentes.

Depois cada um pra sua casa e eu fiquei as últimas horas tentando arrumar alguma coisa pra fazer. Não que eu não tenha, tenho milhares de coisas pra fazer, mas está difícil me concentrar em qualquer uma delas. Estou me sentindo meio "perdido" ultimamente. Mas acho que isso vai passar logo.

E meu domingo foi assim.